
As redes sociais tornaram-se em um verdadeiro campo de batalha para a expressão de ideias políticas
Nos tempos atuais, a capacidade de expressar opiniões é mais fácil do que nunca, graças à proliferação de meios de comunicação online. No entanto, à medida que mais vozes se fazem ouvir, parece que a tolerância para com opiniões divergentes está a diminuir. Este é um problema que merece a nossa melhor atenção, pois mina os princípios fundamentais de uma sociedade democrática.
Vivemos numa era onde todos têm uma plataforma para se expressar. Seja em artigos de opinião em jornais, revistas ou nas redes sociais, as opiniões estão em constante fluxo. No entanto, com essa liberdade também surge uma crescente falta de tolerância em relação a opiniões diferentes, especialmente por parte da chamada “bolha social das redes” – sendo esta entendida como um grupo de pessoas que se unem por interesses semelhantes, nomeadamente no que concerne as redes sociais, no mesmo pensamento político e social, acabando por excluir a participação de quem tem pensamentos contrários.
A diversidade de opiniões é uma força vital de qualquer sociedade democrática. Ela permite o debate aberto, a troca de ideias e a possibilidade de crescimento pessoal e coletivo. Quando perdemos a capacidade de respeitar opiniões diferentes, colocamos em risco a própria essência da democracia.
A “bolha social das redes”, frequentemente extremista, é muitas vezes criticada por uma incapacidade de compreensão ou consideração pelas perspectivas de outros. É um facto de que a extrema-esquerda é muito mais forte nas redes, nomeadamente na rede social X (ex-Twitter), do que a esquerda moderada, a direita democrática e ou até mesmo a extrema-direita. O respeito pelas opiniões divergentes não significa de que devemos concordar com elas. Significa apenas, reconhecer que vivemos em sociedades pluralistas, onde pessoas de diferentes origens e experiências terão visões de mundo diferentes. Ao permitir que essas vozes sejam ouvidas e respeitadas, enriquecemos o nosso próprio entendimento e, possivelmente, encontramos soluções mais equilibradas para os desafios que enfrentamos.
Além disso, a falta de respeito e agressividade pelas opiniões divergentes cria um ambiente tóxico de polarização entre a extrema-esquerda e a extrema-direita, onde o diálogo construtivo é impossível. As redes sociais tornaram-se em um verdadeiro campo de batalha para a expressão de ideias políticas. Em vez de se fecharem em bolhas ideológicas, é hora de abraçarmos a diversidade de opiniões como uma força unificadora, desde que seja baseada em premissas democráticas.
Uma das principais críticas ao extremismo nas redes sociais é a sua propensão para o cancelamento e a intolerância face a vozes divergentes. Aqueles que ousam expressar opiniões contrárias são frequentemente alvo de ataques pessoais, insultos e até ameaças, onde a mentira e o ataque vil são o pão nosso de cada dia. Isso cria um clima de medo e inibição, onde as pessoas hesitam em expressar pontos de vista diferentes, com receio das consequências.
A extrema-esquerda, que muitas vezes se autointitula defensora da justiça social e da igualdade, deveria ser a primeira a promover um diálogo aberto e respeitoso. Infelizmente, a retórica inflamada e a falta de tolerância minam esses princípios fundamentais.
É crucial entender que a diversidade de opiniões é uma parte essencial de qualquer democracia saudável. O debate construtivo e o confronto de ideias diferentes são fundamentais para o progresso social e político. Negar espaço a perspetivas divergentes apenas prejudica o desenvolvimento de soluções equilibradas e eficazes.
Dou aqui, apenas um exemplo do que aconteceu na última semana, nomeadamente com uma publicação que fiz na rede social X. A publicação era sobre o casamento de Francisca de Bragança. O que se seguiu, foi simplesmente lamentável e preocupante, a violência verbal e a intolerância que foram demonstradas em relação ao casamento e à pessoa da Francisca de Bragança são de uma brutalidade atroz e sem qualquer razão.
Em pleno século XXI, quando se esperaria que a sociedade estivesse a evoluir para ser mais inclusiva e respeitosa com a diversidade, assistimos a atitudes violentas, xenófobas e preconceituosas que não têm lugar numa sociedade civilizada.
O casamento de Francisca de Bragança deveria ser um momento de celebração e felicidade para a família real e para o país como um todo, para aqueles que são ou não monárquicos, mas que entendem o casamento como a celebração do amor. No entanto, algumas pessoas optaram por espalhar mensagens de ódio e violência nas redes sociais, criticando Francisca de Bragança, a sua família, a origem estrangeira de parte da sua família e até a sua escolha de noivo. Teve até quem se apresentasse disponível para participar em um outro regicídio, veja-se a tamanha falta de noção dessa gente.
É importante que todos nós, como cidadãos, promovamos a tolerância, o respeito e a aceitação da diversidade. Devemos repudiar qualquer forma de discurso de ódio.
Em última análise, é vital lembrar que a intolerância política nas redes sociais não é exclusiva da extrema-esquerda. Ela é um problema que afeta várias partes do espectro político e o aparecimento de extremismos à direita é sinal disso. Para promover um ambiente mais saudável e democrático nas redes sociais, os atores políticos devem estar dispostos a ouvir, debater e respeitar opiniões diferentes, independentemente da sua origem política. Só assim podemos construir uma sociedade mais inclusiva e democrática online.
Numa democracia saudável, o respeito pelas opiniões divergentes é um pilar fundamental. Devemos aprender a ouvir, debater com civismo e construir pontes em vez de muros. Não é apenas uma questão de respeitar o direito à liberdade de expressão, mas também de fortalecer a nossa sociedade e promover um futuro mais inclusivo e tolerante.
Texto por: Miguel Baumgartner
Consultor e dirigente nacional do CDS-PP