Sabia que pode comprar um automóvel de caixa automática novinho em folha por 16 700€. E que este já vem equipado com alguns “luxos” como o ar condicionado, cruise-control (e limitador de velocidade), sensores de chuva e de luz, ecrã central tátil e ajuda ao estacionamento traseiro?
Pois é, o Dacia Sandero Expression 0.9 TCe 90 CVT é um verdadeiro achado para quem já não abdica do conforto e facilidade de utilização que uma caixa “automática” oferece. É verdade que esta não é uma caixa automática no sentido técnico do termo, sendo, na realidade, uma transmissão de variação contínua, mas, na prática, o que importa é que funciona como uma caixa automática, utiliza-se como uma caixa automática e até a manete é semelhante à de uma caixa automática tradicional.
Para testarmos a utilização do Sandero nos mais variados tipos de percurso, empreendemos uma jornada de 1000 km que nos levou à região de Portalegre, enfrentando pelo caminho todo o tipo de situações, incluindo algumas incursões involuntárias pelo todo terreno. A culpa é da navegação, mas já lá vamos…
Ideal em cidade
Obviamente que a mais-valia de um automóvel automático (ou automatizado) é em ambiente urbano e, aqui, o Sandero 0.9 TCe CVT sente-se como peixe na água. A atual geração do Sandero já é feita com base na plataforma CMF-B, a mesma que o Grupo Renault utiliza, por exemplo, no Captur e no Clio. Face à geração anterior do Sandero, esta cresce em todas as dimensões exteriores, exceto na altura. Os grandes beneficiados acabam por ser os passageiros, que ganham espaço habitável, e a bagageira, que atinge uns significativos 328 litros de capacidade.
Sendo assumidamente um utilitário, a verdade é que o Sandero não se comporta nada mal como pequeno familiar, tarefa que, num mercado como o nosso, terá de cumprir muitas vezes…
Mas focando as nossas atenções nas aptidões urbanas, o Sandero CVT é surpreendente pela desenvoltura que demostra e a facilidade de condução que oferece. O motor de três cilindros com 90 cv é enérgico e a caixa, embora não tão fluida nas reações como uma automática tradicional, é expedita e sabe tirar partido dos 160 Nm de binário disponíveis. Até o tradicional desfasamento entre a carga de acelerador, a subida de regime e o acréscimo de velocidade, fenómeno tão típico das caixas automáticas, foi atenuado ao ponto de, numa condução tranquila, quase não darmos por ele.
A boa visibilidade, os sensores de estacionamento (de série são só atrás, mas por 450€ pode vir equipado com sensores à frente e atrás e câmara) e uma direção assistida que se revela leve q.b., também contribuem para esta facilidade de condução em ambiente urbano, enquanto a tradicional robustez da marca acrescenta uma maior paz de espírito nas zonas mais degradadas das nossas cidades.
Feitas as contas, e com o modo Eco (limita a potência e a resposta do acelerador) ligado, o Sandero 0.9 TCe CVT gastou uma média de 6,7 l/100 km. Valor que podemos considerar justo, até porque não nos preocupámos em demasia com o tipo de utilização e o ar condicionado foi utilizado sempre que considerámos necessário.
Em estrada e… fora dela
Por questões profissionais, durante o ensaio do Sandero foi necessário rumar a Portalegre, uma viagem feita, maioritariamente, em autoestrada, mas com inúmeras incursões em estradas secundárias. Mais uma vez, o Dacia revelou um conforto de rolamento acima da média e um andamento consentâneo com o seu perfil utilitário. O comportamento é muito bom tendo em conta o segmento em que se insere. Nas ultrapassagens mais “esforçadas”a caixa CVT fica mais presente em termos sonoros e revela um ligeiro atraso na resposta, mas nada que não se “aprenda” a gerir, antecipando a manobra. O motor 0.9 TCe de 90 cv também se revela voluntarioso e não sendo um sprinter por vocação, a verdade é que assegura prestações muito razoáveis. Mesmo com quatro adultos a bordo, não sentimos que uma pretensa falta de potência fosse um impecilho a uma condução fluida.
A qualidade a bordo segue a linha da Dacia: simplicidade e robustez, sem prejudicar a boa impressão geral. Os plásticos são quase todos rijos e, tirando um ou outro apontamento (como o tecido que reveste uma parte do tablier) sem grandes requintes ou grande imaginação no design, mas, mesmo em estradas menos próprias para um automóvel de vocação urbana, nunca sentimos que os ruídos parasitas fossem grande incómodo.
Por falar em estradas menos “próprias”, o sistema de navegação do telemóvel (o Sandero não tem um sistema integrado, recorrendo à ligação ao smartphone para colmatar este handicap) teimava em mandar-nos por caminhos que não eram, claramente, para este automóvel, muito menos com a lama e a chuva que se fizeram sentir. Mas o Sandero nunca se acanhou e tirando partido de uma altura ao solo superior (162 mm) ao habitual neste segmento, demonstrou capacidades TT muito acima da média. Não fossem os pneus 100% estradistas e tínhamos feito um brilharete num qualquer passeio off-road.
Já de regresso a Lisboa, e com mais de 700 km percorridos, o computador de bordo do Sandero 0.9 TCe CVT acusava 6,4 l/100 km de média em todo o percurso, incluindo as tais incursões fora-de-estrada. Já à entrada na capital, a média tinha baixado para os 6,2 l/100 km, valor que se iria manter até ao fim do ensaio e que, julgamos nós, poderia ainda ter caído uma décima ou duas se a utilização fosse ainda mais cuidada e o GPS não nos tivesse “enganado” algumas vezes. Se calhar não nos enganou, estava era tão confiante nas capacidades do Sandero que optou por nos poupar tempo e quilómetros levando-nos por uns “atalhos” que, a julgar pela ausência de marcas na estrada, só ele (ou quase) conhecia.
Artigo por Rui Reis