Golpe em Brasília é replica do que aconteceu nos EUA após a queda de Trump e eleição de Biden, diz congressista democrata, llhan Omar
Enquanto Bolsonaro continua em Orlando, nos Estados Unidos, do outro lado do oceano, em Brasília, vários apoiantes invadiram no passado domingo, dia 8 de janeiro, as sedes dos três poderes democráticos do Brasil: o Congresso brasileiro, o Supremo Tribunal e o Palácio do Planalto.
A Polícia Civil confirmou, na manhã desta segunda-feira, a detenção de pelo menos 400 pessoas e pela madrugada, Ricardo Cappelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça, já tinha anunciado na sua página de Twitter que a situação no Distrito Federal estava controlada.
A CNN Brasil dá também conta de que vários manifestantes começam a deixar o acampamento bolsonarista esta manhã no Distrito Federal, onde estavam instalados desde 30 de outubro. Recorde-se que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) decretou num prazo de 24 horas a retirada do acampamento de manifestantes em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Para ajudar na desmobilização pediu a intervenção da Polícia Militar e do Exército.
“Os desprezíveis ataques terroristas à Democracia e às Instituições Republicanas serão responsabilizados, assim como os financiadores, instigadores e os anteriores e atuais agentes públicos coniventes e criminosos, que continuam na ilícita conduta da prática de atos antidemocráticos”, apontou Moraes.
O que está a ser feito após ameaça à democracia?
Esta segunda-feira, os Senadores avaliam o rasto de destruição causado pelas invasões. No mesmo dia, em que Lula da Silva reunir-se-á com a Rosa Weber, a ministra e presidente do STF, e posteriormente, com alguns governadores.
Na agenda do atual presidente está ainda marcada a chamada telefónica com António Costa, primeiro-ministro de Portugal, e com Bill Clinton, ex-presidente dos EUA.
Aguarda-se também a aprovação pelo Congresso Nacional do decreto de Intervenção Federal no DF decretado por Lula da Silva, o que pressupõe que os poderes passam a estar temporariamente centralizados no governo central, “com o objetivo de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública”. O presidente brasileiro nomeou Ricardo Cappelli, atual secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública para a governação do Estado até 31 de janeiro de 2023.
Governador do DF é afastado por “anuência”
Importa ainda notar que no whatsapp já andavam a circular mensagens a sugerir a invasão desde a tomada de posse de Lula da Silva, algumas delas partilhadas pelo jornal Metrópoles. Havendo esta possibilidade e não tendo sido feito nada para impedir a invasão por parte do Governador do Distrito Federal, Ibanei Rocha, este foi afastado do cargo por 90 dias.
A decisão foi determinada por Alexandre de Moraes que considerou que estas circuntâncias “somente poderiam ocorrer com a anuência e até participação efetiva das autoridades competentes pela segurança pública e inteligência, uma vez que a organização das supostas manifestações era facto notório e sabido, que foi divulgado pela mídia brasileira”, justificou o ministro do Supremo Tribunal Federal.
Como serão identificados os invasores?
De acordo com o jornal O Globo, há uma série de medidas para identificar os apoiantes do ex-presidente que instauraram o caos destruindo as instalações.
A Polícia Federal vai investigar nos hotéis do Distrito Federal os hóspedes que deram entrada desde o dia 5 de janeiro. Além disso irão inspecionar as câmaras de segurança para identificarem os suspeitos, mas também pedir declarações aos proprietários de 87 autocarros que trouxeram apoiantes de Bolsonaro a Brasília e rastrear os financiadores do serviço.
Foi feita ainda uma listagem de perfis pró-Bolsonaro que incitaram os atos terroristas do passado domingo.
De acordo com a BBC, o Facebook vai proceder à eliminação de publicações que incentivem a que “as pessoas peguem em armas ou invadam à força o Congresso, o Palácio do Planalto e outros prédios federais”.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, adiantou ainda na página de Twitter que foi criado um email destinado à obtenção de informações sobre os atentados terroristas: denuncia@mj.gov.br
Reação de Bolsonaro: Descarta acusações por falta de provas
O ex-presidente, Jair Bolsonaro, demorou mas comentou as invasões, com o dedo apontado à esquerda, já que comparou este aos ataques ocorridos em 2013 e 2017.
Fazendo uso da sua página do Twitter, repetiu o que já tinha dito durante as eleições presidenciais quando foi questionado se aceitaria a eventual derrota: “Ao longo do meu mandato, sempre estive dentro das quatro linhas da Constituição respeitando e defendendo as leis, a democracia, a transparência e a nossa sagrada liberdade.”
E disse ainda que apesar de Lula atribuir-lhe culpas pelo ataque às sedes dos três poderes democráticos, repudia, não o ataque, mas “as acusações, sem provas”.
Reações internacionais
Pelo mundo propagaram-se imagens da destruição levada a cabo por apoiantes do ex-presidente que não aceitam o resultado das eleições presidenciais e várias personalidades internacionais estão a condenar o ocorrido.
A congressista democrata llhan Omar comparou o ataque de domingo em Brasília, ao ataque ao Capitólio nos EUA, que aconteceu a 6 de janeiro de 2021, quando manifestantes pró-Trump invadiram o centro legislativo após a vitória do atual presidente, Joe Biden. E frisou ainda que Bolsonaro não deveria “refugiar-se” na Flórida.
Também o Presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, emitiu uma nota no Diário da República onde salientou que “considera que estes atos, além de inconstitucionais e ilegais, são inadmissíveis e intoleráveis em democracia”.
Exemplar original da Constituição não foi roubado
Imagens vindas a público levavam a crer que o exemplar da Constituição tinha sido roubado aquando do assalto ao Supremo Tribunal Federal (STF) mas os radicais pró-Bolsonaro levaram apenas a réplica já que o original está no museu do Supremo, informou a revista Veja citando uma fonte do STF.