Esta é para ti, que por vezes te sentes sozinho, mesmo que não estejas.
Não é por teres nascido num país diferente, do que aquele em que vives, que este não é teu também. Não é por a tua pele não condizer com a do teu país que esse país não é teu. Não é por seres emigrante, que não tens direito a uma casa no país que escolheste, ou a vida te fez escolher. No fundo, tu és tu. És mais do que um emigrante, mais do que uma pessoa rotulada, és alguém que merece o que qualquer humano merece.
A negação é o que por vezes nos impede de avançar. Afirmar que Portugal não é um país racista é, por si só, uma presunção, de quem nunca se colocou noutra pele. As últimas manifestações não provocaram o racismo. Possivelmente, irritaram os que se já riam nas redes sociais, ou mandam bocas quando veem alguém de outra raça a passar.
Tu que já ouviste a frase “são só piadas” quando te sentiste insultado, não são só piadas. Não tens de virar a cara por vergonha, não tens de tentar sorrir se te magoa. Tu que já ouviste a frase “ah, mas tu és mulato”, não tens de aceitar isso, até porque a tua mãe pode não ser. Tu que já viste a tua mãe ser discriminada, não tens de esconder as tuas lágrimas.
As manifestações em Lisboa foram uma batalha ganha. Porém, há vitórias que ainda assim sabem a derrotas. O mundo não mudou de um dia para o outro. E tu, sabes isso, quando as pessoas te perguntam “de onde és”. Tu respondes: Portugal, mas as pessoas voltam a insistir, “mas és de onde mesmo?”, e tu continuas a ser de Portugal, nasceste cá, mas os teus pais são emigrantes, a tua pele é mais escura, então não és identificado como português.
Por cada pessoa que morre de discriminação, nascem uns quantos corações partidos. Sim, há pessoas a morrer disso. A lista de nomes não caberia num artigo.
A ti que não és emigrante, não te peço que saibas o que isto é. Não tens de dizer que sabes o que é, não tens de tomar as dores dos outros. Isso não invalida que não tenhas um papel nesta história.
Tu que não és emigrante podes apoiar quem é, podes marcar a diferença. Tu podes optar por não rir, ou parar as piadas leves, pois não conheces o peso que elas têm noutra pele.
Não somos todos iguais, nunca seremos. Mesmo assim, merecemos todos o mesmo respeito. A ti que és emigrante, força. Não estás sozinho, eu estou contigo.
Este artigo foi escrito por Marta Pereira Laranjeira