Quando já se disse tudo e mais qualquer coisa, fica difícil responder à pergunta.
A Festa do Avante começa hoje, dia 4 de Setembro de 2020. Se não fosse pela pandemia, estava tudo muito certo. Mas quando estamos todos sujeitos a uma cambada de regras, medidas e constrangimentos, impostas pelo governo, e que, até certo ponto, afrontam a nossa liberdade, faz sentido que o PCP celebre a sua festa anual?
Esta é a pergunta que vale 2 milhões de euros (valor equivalente ao prejuízo que os comunistas tiveram com a festa nos últimos 6 anos).
Há quem a considere inconstitucional. Há quem considere uma vergonha. Há quem considere uma injustiça. Mas há também quem interprete a permissão do evento como uma jogada política e outros que o apoiam por ser, precisamente, uma afronta corajosa aos tempos que correm.
Tentando responder à pergunta, a Festa do Avante não deveria ter sido sequer uma questão. Há dois ou três meses atrás, deveria ter ficado definido que não há festa para ninguém. Se há, e houve mão firme, que a haja para todos. Afinal de contas, quantos festivais não se realizaram este Verão?
De acordo com Francisco Louçã, foi uma opção dos organizadores, que preferiram adiar a edição deste sombrio 2020 do que deitar tudo a perder… Ainda assim, por muito que seja verdade, sejamos sinceros. Ninguém no seu perfeito juízo, quando tem capacidade para uma plateia de 100 mil espectadores (e um investimento pensado para tal), reduziria o número de pessoas, porque isso seria uma perda de investimento brutal. Pelo que, tal argumento me parece falacioso.
Os outros festivais são o “concorrente directo” do Avante nesta questão nacional. Mas, ainda ontem ouvi na televisão alguém dizer que, não havendo casamentos, enterros e adeptos nos estádios de futebol, é absolutamente inacreditável que se permita a realização da Festa do Avante. Eu também acho. Mas, como disse, deveria ter sido uma não questão há já alguns meses atrás.
Empurraram tanto com a barriga que só esta semana se soube, realmente, as condições do evento. Condições essas, condicionadas indiretamente pelo Presidente da República que, acabado de sair da caverna despreocupada de uma reeleição assegurada, parece agora preocupar-se, mais do que nunca, com os acontecimentos do país. Afinal de contas, a presidência não se faz de selfies nem de beijinhos, mas de coragem, sentido de estado e serviço à população.
Finalmente, numa análise mais política, esta influenciada por José Miguel Júdice: “terá sido este um presente envenenado do PS aos comunistas”? Ou seja, realiza-se a festa, não há problemas na votação do Orçamento de Estado e, ao mesmo tempo, corrói-se o partido. Sim, porque tal como analisou Miguel Sousa Tavares esta semana, o PCP vai perder ainda mais votos depois desta novela.
Mas será que os comunistas, no final de contas, não podem e devem ser um exemplo de libertação das regras apertadas a que estamos sujeitos? O que acontecerá se todos começarmos a desobedecer? E se todos os donos de tudo (não os donos disto tudo) se decidirem rebelar – não é por menos tendo em conta o Avante! – e abrirem os seus restaurantes até tarde, os seus bares, as suas discotecas? Afinal de contas, permitir um ajuntamento de quase 20 mil pessoas é, no mínimo confuso, quando não podemos estar na companhia dum décimo primeiro amigo ou ir buscar uma imperial às 21h.
Nesse sentido, pode o Avante permitir uma marcha em frente que desafie as regras contraditórias de uma DGS cansada, confusa e incapaz de gerir a situação que atravessamos? Ou será uma marcha atrás na saúde pública?
Este artigo foi escrito por Capitão W. Tejo