A desflorestação da Amazónia brasileira diminuiu 63% nos primeiros dois meses do ano, relativamente ao mesmo período de 2023. Embora o indicador seja positivo, a análise dos dados mostra que não há motivos para celebrar.
A desflorestação da Amazónia brasileira atingiu no conjunto dos dois primeiros meses de 2024 um total de 196 quilómetros quadrados, 63% a menos do que nos mesmos meses em 2023 (quando foram destruídos 523 quilómetros quadrados), de acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon).
Esta organização não-governamental, que faz a medição através de satélites da destruição da maior floresta tropical do planeta, refere que, em fevereiro passado, a Amazónia brasileira registou o 11º mês consecutivo de redução da desflorestação.
O primeiro bimestre de 2024 (janeiro e fevereiro) fechou mesmo com a menor taxa de abate de árvores amazónicas dos últimos seis anos, desde 2018, conforme o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.
As notícias são positivas? Sim, mas…
Apesar da boa notícia face a um passado mais recente, o facto é que janeiro e fevereiro últimos apresentaram um desmatamento acima do registado no mesmo período entre os anos de 2008 (quando o instituto introduziu o seu sistema de monitorização por imagens de satélite) a 2017, com exceção apenas de 2015. Em todos os outros anos, os derrubes permaneceram abaixo dos 150 km².
E os 216 km² estão a ser comprados com um autêntico apocalipse que se verificou em janeiro-fevereiro de 2023 (523 km²).
Logo, os 196 km2 de janeiro-fevereiro de 2024 assustam: trata-se de uma devastação que equivale a 327 campos de futebol por dia.
Os dados mostram, por isso, que ainda há um grande desafio pela frente, considerando que, enquanto “pulmão do planeta”, a Amazónia tem um papel muito importante no combate às alterações climáticas.
Entre os nove estados que compõem a Amazónia Legal, dois deles apresentaram aumento no desmatamento em fevereiro: o Maranhão, onde a devastação passou de 2 km² em fevereiro de 2023 para 5 km² no mesmo mês de 2024 (+150%), e Roraima, onde a destruição foi de 19 km² para 26 km² (+37%).
O desmatamento no Maranhão merece especial atenção, pois esses cortes têm sido feitos com avanços para dentro dos territórios de áreas protegidas, como a Reserva Biológica do Gurupi e a Terra Indígena Porquinhos dos Canela-Apãnjekra.
Já em relação ao tamanho das áreas desmatadas nos dois primeiros meses de 2024, os estados que lideram o ranking são Mato Grosso (32%), Roraima (30%) e Amazonas (16%).
No caso de Mato Grosso, o avanço do desmatamento está a ocorrer principalmente por causa da expansão agropecuária.
Em Roraima, os derrubes têm avançado inclusive dentro de terras indígenas.
Já no caso do Amazonas, a expansão do desmatamento ocorreu em novas unidades de produção agrícola.
Juntos, estes três estados somam 152 km² de florestas derrubadas no bimestre de início de 2024, cerca de 78% de toda a destruição detetada na Amazónia
O Brasil definiu uma meta de desflorestação zero para 2030, mas não é garantido, neste momento, que isso se venha a alcançar.
Agilizar os processos de demarcação de terras indígenas (para que mais rapidamente se fixem os limites físicos dessas terras e, assim, se consiga preservar melhor o modo de vida destas populações, bem como a floresta e a biodiversidade nessas zonas), criar unidades de conservação e estruturas de vigilância são três formas de atacar este flagelo ecológico.
As estruturas de vigilância da Amazónia estão a ser retomadas pelo atual governo liderado pelo Presidente brasileiro, Lula da Silva, e as demarcações de terras indígenas voltaram a ser aprovadas a partir de 2023, depois de terem sido abandonadas entre 2019 e 2022, durante o governo do ex-Presidente Jair Bolsonaro.
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