Um estudo realizado pela My Nametags revela que os portugueses estão pouco informados sobre o tema da saúde mental.
A My Nametags, principal fabricante de etiquetas adesivas no mercado europeu, realizou um estudo com mais de 1.040 participantes entre os 16 e os 77 anos, de forma a compreender melhor a perceção dos portugueses sobre a problemática da saúde mental das crianças em Portugal.
A população portuguesa revelou-se preocupada e consciente da importância deste tema com 85% a considerar um assunto prioritário na nossa sociedade. Joana Teixeira, psicóloga comunitária com basta experiência junto do público juvenil afirma: “É muito importante perceber que as pessoas estão conscientes do impacto que a saúde mental tem na nossa sociedade e em específico nas crianças e jovens de hoje. A saúde mental é tão importante quanto a saúde física. Os tempos mudaram e as crianças e jovens de hoje estão sujeitos a diversas fontes de ansiedade e pressão social que podem pôr em causa a sua saúde mental, o que nos obriga a desenvolver um nível de compreensão para todas estas dimensões, bem como ferramentas que lhes possam dar resposta”.
No entanto, há dados importantes sobre os quais os portugueses não estão a par:
- Um terço dos respondentes não tinha conhecimento que 20% das crianças e jovens em todo o mundo apresentam problemas de saúde mental diagnosticáveis;
- 40% não sabia que o suicídio é a 2ª causa de morte entre os adolescentes;
- 60% não estava a par de que, em média, 6 alunos numa turma de 30 podem desenvolver problemas de saúde mental.
Porém, no que toca às doenças associadas a esta problemática já existe uma maior clareza: 61% dos inquiridos está consciente de que o transtorno mais frequente em crianças até aos 12 anos é a depressão e ansiedade e unicamente 4% consideram que não é frequente crianças desta idade desenvolverem algum tipo de transtorno.
Sinais de alerta e fatores de risco
Sobre os sinais de alerta que os participantes consideram mais relevantes para a identificação de perturbações de saúde mental, 59% dos inquiridos acha que será o isolamento e falta de interesse, seguido de sentimentos de tristeza (58%), mudanças bruscas de humor e comportamento (55%), ansiedade e preocupação intensas (54%), agressividade contra si próprio (52%), baixa autoestima (50%), dificuldades de concentração (43%), sentir muito medo sem razão aparente (41%), cansaço e falta de energia (39%), alterações bruscas no peso ou sono (38%) e, por último, dores de barriga ou de cabeça frequentes sem explicação (33%).
Sobre os fatores que podem aumentar o risco de desenvolver problemas de saúde mental, 72% considera que o contacto direto com um conflito parental é crucial, 70% casos de abuso físico ou sexual, 65% sofrer de discriminação, 48% afirma que poderá estar relacionado com familiares com problemas de saúde mental, 36% doença fisica longa e apenas 23% considera que poderá estar relacionado com o facto de viverem em pobreza extrema.
“A infância e adolescência são períodos de grande crescimento e desenvolvimento físico, intelectual e emocional, o que pode dificultar a identificação de sinais de alerta. Assim, é importante ter em conta a intensidade, a frequência e se incapacita a criança/jovem de realizar atividades que eram comuns no seu dia-a-dia.” – revela Joana Teixeira – “Todos os sinais de alerta elencados acima são importantes. Caso sejam identificados, pelos pais ou cuidadores, é relevante dialogar abertamente com o/a seu/sua filho/a, ouvi-lo/a e levá-lo/a a sério. Ao comunicar desta forma, irá perceber melhor o que se passa na sua vida e avaliar a necessidade de pedir ajuda a um profissional de saúde mental”.
Respostas em Portugal
No que toca às respostas que Portugal tem para este problema, 50% dos inquiridos considera que são pouco acessíveis e somente 3% acredita que são muito acessíveis. Quanto à criação de um novo serviço de psicólogos de família, 58% dos portugueses considera uma medida muito importante e apenas 1% vê como desnecessário.
“De facto, o papel que a saúde mental tem na nossa vida e no nosso dia-a-dia, requer uma resposta adequada às necessidades. As escolas estão assoberbadas, o sistema nacional de saúde tem dificuldade em dar resposta ao volume de pedidos e o privado pratica preços que tornam, muitas vezes, inacessível o acompanhamento psicológico, como estes resultados refletem. A criação de uma figura de “psicólogos/as de família”, como um profissional de saúde que está disponível para cada indivíduo, à semelhança do médico/a de família, poderia ser uma alternativa para melhorar a acessibilidade dos serviços de saúde mental. Se considerarmos a saúde mental tão relevante como a saúde física, facilmente percebemos que o acompanhamento psicológico/psiquiátrico é um direito que temos e ao qual não estamos a ter acesso”.
Sobre o estudo
A informação deste relatório surge da análise aos questionários executados online para a My Nametags sobre os problemas de saúde mental em crianças e jovens. Foram recebidas 1099 respostas, das quais 1047 consideradas válidas.
A amostra é constituída por 1047 Indivíduos com idades entre os 16 e os 77 anos, 66% deles do sexo feminino e 33% do sexo masculino, sendo que a maioria está em contacto ou lida com crianças e jovens, cerca de 78%.