“O país falou, e Montenegro e a AD têm uma oportunidade única para governar e mudar Portugal, mas sem tibiezas. Agora é a hora de mostrar ao que viemos.”
As eleições do último domingo foram um marco na história política de Portugal, foram as eleições com a mais alta participação eleitoral já vista. Um número significativo de eleitores que anteriormente se abstiveram decidiram exercer o seu direito de voto, impulsionados pelo desejo de promover mudanças significativas no cenário político nacional.
Este movimento resultou em duas ações fundamentais: primeiro, proporcionou à esquerda uma derrota histórica, sem precedentes desde o 25 de abril, ocorrendo justamente no ano em que celebramos o 50º aniversário dessa data emblemática. Neste contexto, é impossível ignorar a derrota do Partido Socialista e de Pedro Nuno Santos e, em especial, a governação conturbada liderada por António Costa nos últimos oito anos.
O PS não apenas perdeu a maioria absoluta, mas também falhou em obter uma maioria relativa, sofrendo uma queda acentuada de cerca de 40 deputados e passando de 41,68% para 28,66% dos votos – uma queda estrondosa que reflete o desejo de mudança por parte dos Portugueses.
Por outro lado, os portugueses foram às urnas com a determinação de oferecer uma nova direção ao país, sabendo que só uma nova liderança e um governo renovado, pode ser capaz de mudar o cenário político de 8 anos de PS. Ficou evidente que a maioria dos eleitores não desejava mais um governo liderado pelo PS ou uma coligação de esquerda, uma nova geringonça, nos comando de Portugal.
O voto expresso na Aliança Democrática e em Luís Montenegro, embora por uma margem estreita em relação ao PS, foi e é suficiente para garantir mais votos e mais mandatos logo, uma vitoria e a legitimidade para formar governo.
Além disso, muitos eleitores, incluindo uma parcela considerável que anteriormente apoiava o PS, o PCP e muitos abstencionistas, decidiram conceder um forte apoio à extrema-direita, resultando em um expressivo voto, com 1,1 milhão de votos e cerca de 48 deputados eleitos. Mais do que um simples protesto, esta mudança de cenário político reflete uma certa insatisfação com a abordagem dos partidos de centro-direita em relação a questões que são cruciais para este eleitorado. E também não podemos esquecer que a esquerda, António Costa, muita comunicado social e o ex-presidente da AR Santos Silva, têm muitas responsabilidades no crescimento do CH.
António Costa decidiu seguir a linha de François Mitterrand quando este usou a Frente Nacional, um partido sem qualquer expressão eleitoral, como arma de arremesso contra o centro-direita democrático e inflou o partido de extrema-direita francês. Pensava assim acabar com a direita moderada, permitindo ao PS francês ser o partido charneira do regime. Tudo pelo poder, sem olhar para nada. François Mitterrand praticamente alcançou o seu objetivo e a Frente Nacional hoje discute as eleições “taco a taco” com o centro democrático, mas o PS francês praticamente desapareceu, e António Costa usou o mesmo modelo para manter-se no poder sem olhar ou pensar em Portugal primeiro.
É fundamental compreender que este eleitorado de mais de 1 milhão de portugueses não se resume a racistas e fascistas, como sugerem alguns. Pelo contrário, é necessário reconhecer as múltiplas motivações e preocupações destes eleitores, que, de certa forma, se podem sentir marginalizados pela classe política tradicional.
Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, destacou recentemente a importância de acolher estes eleitores, ressaltando a necessidade de o novo governo da AD compreender algumas das suas ideias e encontrar soluções para os seus problemas, que vão muito além de questões como racismo, xenofobia ou imigração. Temas como dignidade das instituições, desemprego, emigração de jovens, segurança pública e apoio aos agricultores estão entre as preocupações deste eleitorado, para as quais a AD demonstrou ter respostas durante a campanha eleitoral.
No entanto, é preciso reconhecer que o partido Chega se tornou um canal de expressão para este descontentamento, mesmo que tenha sido inflado pela esquerda. E assim sendo, caberá agora a AD trabalhar para que este eleitorado possa voltar a acreditar que os partidos da direita democrática são a solução.
O povo português falou nas urnas com serenidade e determinação, concedendo à AD a oportunidade de formar um governo em minoria, conforme ocorreu em diversas ocasiões anteriores, e assim poder implementar as propostas mais votadas pelo eleitorado. Diante deste cenário, é imperativo que os partidos atuem com responsabilidade na Assembleia da República, garantindo a estabilidade necessária para que o governo possa governar em prol dos interesses de Portugal e não nos interesses de cada um dos partidos políticos. Mas se assim não for, cada partido assumirá a suas responsabilidades e os portugueses cá estarão para responder.
Mas não basta só isso, é crucial que Luís Montenegro entenda que possui apenas uma oportunidade para consolidar a sua posição e governar de forma eficaz.
Dentro de três meses, o país enfrentará novas eleições, desta vez as europeias, que historicamente não favorecem o governo em exercício, servindo como um indicativo de insatisfação popular, mesmo em governos recém-eleitos. E por esta razão todo o tempo é pouco e o foco tem de ser total.
Montenegro não precisa de procurar por soluções mirabolantes ou teorias complexas, pois a resposta para o desafio que tem está à sua frente, está claramente à vista, inspirada no legado político do seu maior aliado, Cavaco Silva.
A chave para a sobrevivência e o sucesso deste governo reside em seguir uma receita conhecida, testada e viável, que consiste em governar com firmeza, foco, determinação e com uma capacidade de entregar resultados a curto prazo. E sempre rejeitando qualquer tentativa de aliança com o CH e focados na recuperação do eleitorado de centro-direita.
Luís Montenegro tem de copiar o modelo de ’85 de Cavaco Silva e formar um governo coeso, pequeno e dedicado à implementação do programa eleitoral, priorizando medidas que tenham impacto imediato e visível na vida dos portugueses. Além disso, é essencial escolher ministros politicamente fortes e capazes de conduzir pastas fundamentais com eficiência, inclusive trazendo da sociedade civil talentos que sejam claramente fora dos partidos políticos da AD.
O governo deve traçar um plano de ação claro e centrado nas áreas prioritárias, como saúde, educação, habitação, segurança pública, agricultura, meio ambiente e finanças, onde a redução de impostos deve ser uma das primeiras medidas a ser implementadas.
Se mantiver o foco numa boa governação com um governo coeso e sem aventuras e se evitar distrações, Montenegro e a AD podem em pouco tempo demonstrar ao país que são a escolha certa para liderar a mudança.
No entanto, é importante que Montenegro e a direita moderada, representada pelo PSD e CDS, realizem uma profunda reflexão sobre os resultados eleitorais, que possam compreender as razões que levaram o CH a obter uma expressiva votação e quase 50 deputados. Essa análise precisa de ser feita com o intuito de aprender com os erros e acertar o passo para o futuro, mas sem nunca ceder um centímetro ao CH, sem nunca aceitar incluir o CH, sem nunca aceitar quebrar as linhas vermelhas que são essenciais para separar águas.
O país falou, e Montenegro e a AD têm uma oportunidade única para governar e mudar Portugal, mas sem tibiezas. Agora é a hora de mostrar ao que viemos.
O futuro não se constrói com extremistas e, no momento certo, o eleitorado vai entender que certamente Portugal não precisa disso.
Miguel Baumgartner
Gestor e Dirigente Nacional do CDS-PP