No ano em que se comemoram os 50 anos da “revolução dos cravos”, fomos pesquisar que automóveis foram motivo de destaque em 1974? O que fazia os europeus em geral, e os portugueses em particular, sonhar? Que carros se vendiam e que novidades se deram a conhecer no ano em que se deu o 25 de abril?
A realidade nacional em 1974
Em 1974, a realidade nacional era outra e a Fiat dominava o mercado em Portugal, seguida pela Toyota com o eterno Corolla e, em terceiro, a Datsun com o não menos conhecido 1200. Obviamente que os igualmente míticos Renault 5 e Renault 4 também mereciam destaque no mercado nacional e eram responsáveis pela locomoção de muitas famílias nacionais, especialmente o R5 que ainda era um “jovem”, com apenas dois anos de mercado.
Como referimos, o modelo mais “querido” pelos portugueses na altura da revolução era o icónico Fiat 127 (quem não tem um familiar ou amigo que teve um destes utilitários) que custava 95 contos (475€). Isto numa época em que um litro de gasolina custava 7,5 escudos (0,035€).
Parco na cilindrada (903 cc) e na potência (45 cv), mas muito leve (menos de 700 kg), o 127 tinha um motor de 4 cilindros, alimentado por um carburador Weber, e atingia os 135 km/h de velocidade máxima. A caixa era manual de quatro velocidades e o compacto transalpino media apenas 3645 mm de comprimento.
Lamborghini Countach, quando o sonho comanda a vida
Quem, da geração que comemora agora os 50 anos, nunca enfeitou o seu quarto com um poster de um vistoso Lamborghini Countach? Mas sabia que o deslumbrante desportivo foi lançado comercialmente em 1974? Pois é, um dos mais icónicos automóveis de sonho alguma vez produzidos comemora 50 anos. O mais curioso é que, olhando para as linhas desenhadas pelo genial Marcello Gandini, ninguém diria que foram criadas na década de 70 e que, ainda hoje, são de uma beleza e de um arrojo desconcertantes.
A primeira geração do Countach foi denominada LP 400. O motor V12 de 4 litros estava montado longitudinalmente (Longitudinale Posteriore, daí o “LP”) e produzia 375 CV. Uma velocidade máxima de 309 km/h e uma aceleração dos 0 aos 100 km/h em 5,4 segundos provaram que o LP 400 não era apenas uma visão deslumbrante, mas também oferecia as esperadas prestações de topo que a Lamborghini representava.
VW Golf, o nascer de uma lenda
Descendo um pouco mais à terra, mas mantendo a tónica nos ícones automóveis, um mês após o 25 de abril, nasceu outra lenda viva da indústria automóvel. A primeira geração do VW Golf foi apresentada em maio de 1974, um automóvel de tração dianteira que pretendia substituir o “velhinho” Carocha e que, também ele, foi um verdadeiro sucesso de vendas.
O primeiro Golf de produção em série saiu de Wolfsburg em março de 1974 e ficou disponível nos concessionários a partir de maio do mesmo ano. Enquanto sucessor do lendário Carocha, do qual foram produzidos mais de 21,5 milhões de exemplares, o Golf Mk1 – desenhado por Giorgetto Giugiaro – defendia um conceito de condução muito mais moderno e seguro. A versatilidade e o seu design foram tão convincentes que, em outubro de 1976, já era altura de celebrar o milionésimo Golf produzido. 6,99 milhões de exemplares da primeira geração do Golf – incluindo todos os derivados e o (na altura) estruturalmente idêntico Jetta – foram vendidos em todo o mundo.
Toyota Corolla, de sucesso em sucesso
Talvez também não faça ideia, mas em 1974 foi lançada a 3ª geração do Toyota Corolla. Já nessa altura, o familiar do gigante japonês era o automóvel mais vendido no mundo, um sucesso que ajudou o Corolla a bater o recorde de unidades produzidas, tendo já suplentado, confortavelmente, os 50 milhões.
Curiosamente, o lançamento deste “novo” Corolla aconteceu exatamente em abril de 1974.
Mais tarde, a gama cresceu com a adição de um liftback de duas portas. Os Corollas receberam o código E30, enquanto os Sprinters receberam o código E40. Todos os sedans e carrinhas, juntamente com o coupé Hardtop, eram oferecidos apenas com o motor 3K de 1,2 litros e 54 cv, enquanto o Liftback podia ter o motor 2T maior (1.6) e com 88 cv.
Citroën CX, uma nave espacial
Imagine o que seria, em 1974, estar sentado no seu sofá e um vizinho ou um familiar aparecerem na rua com um Citroën CX. O ar de espanto perante aquela “nave espacial” devia ser inevitável, tal era o grau de sofisticação e arrojo da berlina familiar topo de gama do construtor gaulês.
Fabricado entre 1974 e 1991, o CX veio substituir o icónico, e sofisticado, DS, sendo o último modelo produzido pela marca francesa antes desta ser integrada no grupo PSA. As linhas fluidas e aerodinâmicas foram concebidos pelo designer automóvel Robert Opron.
Há muito que a Citroën utilizava um túnel de vento e o CX foi concebido para ter um um baixo coeficiente de resistência aerodinâmica de 0,36. De facto, o nome do carro CX refere-se ao termo francês para coeficiente aerodinâmico.
Uma característica inovadora era o vidro traseiro côncavo, concebido para limpar a chuva sem a necessidade de um limpa-vidros traseiro. Mecanicamente, o Citroën CX era um dos automóveis mais avançados do seu tempo, combinando a suspensão hidropneumática, a direção DIRAVI sensível à velocidade e totalmente assistida e um design interior único e eficaz que eliminava as hastes da coluna de direção, permitindo ao condutor alcançar todos os comandos com as duas mãos no volante monobraço.
Em termos de motores, o Citroën CX estava, originalmente, equipado com uma unidade 2.0 com 101 cv e um 2.2 com 110 cv.
Mercedes-Benz 450 SE vence o Carro do Ano
Apesar de o W116 ter sido apresentado em 1972, o espetacular Mercedes-Benz 450 SE só foi lançado em 1973 e eleito Carro do Ano (COTY) em 1974. O motor de oito cilindros e 4,5 litros com 225 cv (M117) fazia, assim, a sua estreia no Classe S e, paralelamente, no 450 SEL com uma distância entre eixos aumentada em 100 milímetros.
O W116 tinha suspensão independente e travões de disco nas quatro rodas. Aliás, em 1978, o W116 tornou-se o primeiro automóvel de produção a utilizar um sistema eletrónico de travagem anti-bloqueio (ABS) multi-canal nas quatro rodas da Bosch como opção.
A produção do W116 totalizou 473.035 unidades e foi sucedido pelo Classe S W126 em 1979.
Fiat 131, o familiar por excelência
Apresentado no Salão de Turim de 1974, o Fiat 131 estava disponível em variantes de 2 e de 4 portas. Com 4230 mm de comprimento, o exterior angular do 131 foi concebido para ser o mais funcional possível para uma família, otimizando o espaço a bordo e a capacidade da bagageira. O motor de quatro cilindros instalado na frente accionava o eixo traseiro através de uma caixa de quatro velocidades e de um veio cardan dividido.
A primeira série distinguia-se pelos faróis duplos mais pequenos, rectangulares (na versão de base) ou redondos e para-choques cromados com cantos de plástico. O 131 foi o primeiro automóvel a utilizar uma fonte de luz central associada a guias de luz para iluminar certos elementos do painel de bordo (interruptores das funções auxiliares, comandos do aquecimento).
A gama de motores incluía dois 1.3 com 55 cv ou 65 cv e uma unidade 1.6 com 75 cv que impulsionava o Mirafiori até aos 160 km/h, um valor assinalável para a época e para um familiar deste tipo.
Artigo por Rui Reis